“...Prefiro pintar olhos humanos a pintar catedrais,
porque existe algo nos olhos humanos que as catedrais não têm,
por mais majestosas e imponentes que sejam...”
Vincent Van Gogh
Camaradas:
Faço estas linhas neste domingo cinza pensando na dimensão de tudo o que temos feito juntos, de uma forma ou outra, e de nossa “grande obra”, o Painel de Sant’Ana do Livramento.
Com estes nosso Núcleo, temos andado na contramão do senso comum de nosso IA. Temos sido mais do que inovadores: temos sido teimosamente diferentes, insistentemente persistentes e consecutivamente propositivos.
Mostramos que, na realidade, nosso principal desafio não é o de “ocupar” o sistema de artes. Nosso principal desafio é o de criar nosso público, criar nossos parceiros e ir à luta. E claro, aprender com esse público e esses novos parceiros das artes, numa relação dialógica e dialética, num processo de mútuo aprendizado.
Muitos se perguntam qual é o segredo do “sucesso” de nossa proposta. E o segredo acho que é esse que o Van Gogh apontava: nossa pintura é profundamente humanista, pintamos prioritariamente gente, pessoas, povos; e as pessoas querem isso. Sim, a contemporaneidade tem enviado estas linguagens para o limbo.... mas as pessoas tem mandado a contemporaneidade para o limbo também, e para as enigmáticas obras conceituais e “modernosas”, cabem apenas o silencioso espaço dos museus –cemitérios de arte- e das galerias de iniciados visitantes e pouquíssimos compradores.
Fazemos arte pública, e nada devemos a outras propostas. Nem sequer em modernidade ou conceito: se derem umas pesquisadas na Internet, verão que na contemporaneidade há um espaço enorme para a arte mural em todo o mundo. Inclusive na “Yankeelândia”. O paraíso dos modernosos, que parecem apenas olhar para as galerias de lá.
Visitem o site da cidade de Philadelfia, chamado “art mural”, e vão se surpreender com o muralismo dessa cidade. Que é capaz de humanizar a cidade, de criar tours turísticos e de capitanear processos de arte educação e de inclusão social. Ou visitem os sites de arte mural do Chile, e poderão descobrir que os coletivos de muralistas (lá chamados de “brigadas”) já eram parte da contemporaneidade em... 1971, quando realizaram exposições de painéis no Museu de Arte Contemporânea de painéis de murais que estavam nas ruas em 1971.
Ou poderão descobrir nos site de Arte Mural da Nicarágua as vertentes do muralismo centro americano vigentes até hoje: a religiosa-cristã, a revolucionária nos moldes dos mexicanos, a revolucionária mais próxima ao grafitte, a civil mais contemporânea... Ou pesquisem sobre arte mural no Canadá, país que convida estrangeiros muralistas a trabalhar em seu país, pagando muito bem.... Pesquisem sobre arte mural na Europa, e verão que lá também há um muralismo gigantesco, meticulosamente realista, quase que hiper realista, capaz de criar novas paisagens nas cidades.
Ah, e a melhor parte: esse muralismo tem mercado, que é gerenciado pelo poder público.
Ou seja: esse muralismo gera emprego, renda, grana. Nos profissionaliza...
Na quinta-feira dia 24 de novembro, junto ao Prefeito de Livramento Wainer Machado reunimo-nos com o Presidente da CGTEE, Sereno Chaise. Foi uma rápida reunião, na qual o dirigente da Estatal deu o OK final a nosso projeto de Livramento, desta vez financiado pelo Governo Federal, em parceria com a prefeitura Municipal. Mas por motivos de decisões do Ministério Público, apenas poderão liberar as verbas após 31 de dezembro. Ou seja: só poderemos executar o projeto em 2007. Já marcamos a data: março, na segunda semana, após início de nossas aulas.
Vejam só a dimensão deste passo dado pelo nosso CATC e, em especial, pelo nosso Núcleo: mais uma vez conseguimos financiar um projeto, o que não é pouca coisa. Ter conseguido financiar a primeira edição do projeto, em julho, foi uma baita conquista. Foi a primeira vez que o CATC teve a capacidade de realizar um projeto de extensão por conta própria, assinando convênio, conseguindo verbas e executando o projeto. Foi uma Prefeitura quem financiou o projeto, uma Prefeitura distante do IA. Agora, para a segunda edição do mesmo, quem nos financiará será o Governo Federal. Não é pouca coisa!!!
Um monte de gente corre atrás desses patrocínios e nada!!!
Parte do mérito dessa conquista tem a ver com o fato de eu conhecer de longa data o Prefeito de Livramento, de conhecê-lo desde 1989, quando muitos deste núcleo ainda eram crianças pequenas... Mas a outra parte do mérito é de todos nós, desse coletivo maravilhoso que foi até Livramento e demonstrou uma seriedade e capacidade de trabalho incrível e profissional, com uma dedicação que, com certeza, nem os tínhamos pensado ter.
Lembro-me da preocupação de todos em como seria nossa atitude, quantos problemas poderíamos vir a enfrentar, a desconfiança com a nossa própria indisciplina, a insegurança por nem todos ter a mesma experiência de trabalho.
Mas quem nos viu naquele muro gigantesco, absortos, sujos de tinta, preocupados com a chuva e com o muro inacabado, pressentiu que ali tinha gente séria, querendo dar o melhor de si para a cidade que tão bem nos acolheu.
Agora temos a oportunidade de acabar o trabalho, de sermos nomeados mais uma vez “cidadãos” da cidade fronteiriça, de trabalhar até conseguir o que todos esperam: uma obra de arte.
É claro que o tempo que nos separa a primeira edição da ida a Livramento da segunda tem de ser aproveitados por nós. Agora, a maioria sabe quais são seus problemas na composição, nos desenhos e nas cores. Tivemos tempo de repensar nossos trabalhos, de pesquisar e elaborar propostas melhores. De descobrir as melhores formas de ampliar e pintar nosso trabalho.
Se queremos estar inseridos nas correntes de muralismo mundial (e por isso recomendo a pesquisa na Internet!!!) vamos ver que as propostas vigentes são excelentes nessas questões: desenho, composição, realismo, pintura...
O NPM ofereceu para todos, oficinas de composição, de desenho, de ampliação e de pintura. Nem todos as aproveitaram, mais do que nada pela agitada agenda que temos. Mas quem as aproveitou melhorou seus projetos, modificou suas pinceladas, ampliou seu olhar.
Precisamos que todos os projetos sejam melhorados, para manter nosso nível. Mas também para mostrar a nós mesmos nossa própria capacidade de refletir sobre nosso trabalho, de melhorar e qualificar o que fazemos. Que somos todos estudantes de artes, e nenhum traço ou pincelada nossa já é a “genial”, ou a “nossa marca”: estamos construindo isso.
Por isso, esta semana temos de trabalhar nossos projetos, e na quarta feira dia 08 temos de apresentar nossos trabalhos em A3. Será fotografado e entregue ao representante da CGTEE.
Por outro lado, mais notícias. E boas.
Segundo o Professor Rodrigo, ano que vem, já como projeto de extensão, teremos o acompanhamento de uma professora de técnicas e materiais nos assessorando. Destaco que esta cadeira não será oferecida para os demais alunos, apenas para os integrantes do NPM. Aí começamos a ver o “lucro” de nosso trabalho...
É claro que para isso, não adianta apenas pensar nos projetos.Todos deveremos assinar o termo de adesão. Todos deveremos participar do NPM, das suas duas reuniões mensais e suas oficinas. Temos de consolidar a Coordenação do NPM, respaldar a gestão dos colegas que tem dedicado parte de seu tempo de estudo em correr “atrás” da máquina. De espaço para as reuniões. De salas para as oficinas. De materiais de pesquisa. De convocatórias e ligações e e-mails. E que muitas vezes nem sequer abrimos....
Produzir mais e melhor, manter uma organização auto gerida e autônoma, mas fundamentalmente ativa. Dessa forma, o projeto de extensão terá validade.
Aí, apresentaremos o resultado de nosso trabalho no Salão de Extensão. Isso conta na nossa carreira!!!
E daí a conseguir bolsas de estudo ou pesquisa nesses países que tem um muralismo contemporâneo e
consolidado, é um passo. Quem sabe assim, aos poucos, iremos abrindo mais mercado para todos nós.
Por tudo isso, no dia 08, que há de ser nossa última reunião de 2006, teremos de decidir outras coisas:
? Vamos continuar trabalhando nas férias? Com que freqüência? Que dias? Aonde?
? Vamos realizar outros projetos ainda este ano? Quais? Com que propostas?
? Quais projetos serão prioridade para o primeiro semestre de 2007?
? Qual será nosso “cronograma” de trabalho?
Esperamos que as notícias sejam bem-vindas, e que na próxima reunião, a gente se encontre para poder encerrar o ano com todo o pique.
Até a semana que vem!!!!
Alejandro Ruíz
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